Publisher's Synopsis
Prefácio para "Árvores no quintal" de Tati Costa
__________ Por Luiz Andrade
Florescência de sonhos ante um universo em ruína. Na poética de Tati Costa expressa em seu livro de estreia "Árvores no quintal", tudo desaba. Quedam as palavras em versos enxutos, caem coisas e gentes nas vielas por onde a poeta trafega e desvia-se. Entre um verso e outro, jovens tombam alvejados, corpos esgotam-se na escravidão do trabalho, almas embriagam-se em frente à TV.
Se fosse uma tela, os versos estariam borrados, as tintas rubras de sangue, a dor em cada movimento abrupto do pincel-poesia. Por trás, alguém chora encharcando o papel sobre o qual grita seus pesares: como se faz para reescrever outros mundos e quereres a meio a sangue e escombro? E é aqui, na revolta incontida do amor que não cabe em si mesmo, e rebela-se contra o mundo de baixezas, que a poesia quase se transmuta em denúncia, mas se refaz engrandecendo-se com as brumas do sonho. Por que há de sonhar em resistência, a poeta, que tem chamas nas entranhas, como ela mesmo evoca.
No deserto implacável onde habita - neste país em que insiste em sua sina colonial e escravista - a palavra triunfa naquilo que ela não consegue dizer.
São palavras bailarinas que dançam sem substância. Não são panfletos, são versos que alimentam os sonhos como potência necessária para seguirmos com a cabeça erguida e flores nas mãos.A autora nos oferece seus amores, suas dores e uma rota para jardins florescentes. Sabe-se cercada em cada passo, na rotina torturante do trabalho monótono, na suspensão dos sonhos para a garantia do pão de cada dia, na palavra autômata do chefe que emula seus funcionários para bater a meta do mês. Sua produtividade, a mais inútil de todas: enfeitar as entranhas das ruas com o resto de calda de açúcar quente. Eis seu destino e seu alvo! Vejo-a, Tati Costa, inteira em seus cacos, recompondo-se para quebrar mais a frente e mais uma vez plena em sua labuta de embelezar o mundo. Saímos da leitura em frangalhos buscando algo para nos segurarmos. Choramos com a poeta e prometemos ao amor: não seremos triturados pela máquina de moer gente!
Andaremos em bando, mesmo a sós, com as mãos entrelaçadas! Não deixaremos os jovens pretos serem destroçados pela polícia! Seremos o pai e a filha no encontro do fim do dia após um dia de sonho, não mais de massacre!
Com Tati Costa sonhamos um povo livre, imaginamos sociedades sem classe, os poetas a frente de batalhões inexistentes. Não à toa, talvez, o título de seu livro, "Árvores no quintal", traduza bem essa vontade de descanso ante uma realidade social infernal que não nos dá o direito à beleza, o direito imprescritível da poesia. Em seu livro de estreia, Tati Costa nos aproxima do abrupto dia que deixaremos de ser sementes para nos transformarmos em um belo arvoredo.