Publisher's Synopsis
Num fato de traços e design picassianos. Fernando Pessoa emerge numa nova linguagem, vestido num jeito talvez pós-modernista, pronto para a passerelle do silêncio do seu quarto e da sua janela sobre Lisboa.Alguma disformidade de traço ou linha não é mais do que a harmonia dos elementos do rosto, a natureza humana em todos e qualquer momento perante o sol, o rio o horizonte, a palavra ou texto em imagem. Nota-se vincadamente não só a harmonia, mas também a revolta numa conjugação de linhas, formas, cores textura desmesura que lhe dão a grandiosidade dos universos oníricos pessoanos e do real, sempre repleto de vicissitudes para o poeta mas também almofada, luz ...Esconde-se e revela-se na cor nos materiais - a madeira como mesa do Martinho e o vinho, esse delírio e delitro, na luz e na técnica de mestre Girão um Pessoa aproximando-o do real do sonho ou da presença desse Deus do néctar inspirador e também de refúgio da dor onde também se nota o passado ou imagem dele e sobretudo o futuro. Sendo o fato apenas um elemento acessório, porém simbólico, ou seja, o peso, a carga visível do quotidiano, Mestre Girão veste e desnuda o poeta transfigurando-o tanto na roupagem como no tempo, fundindo o real, o visível com o oculto e irreal, onde a verdade se expõe perante o olhar e a leitura de cada um. O texto de Bernardo Soares aqui não é mais do que um suporte para uma nova metalinguagem. Voltando ao fato, este acessório físico, surge apenas como matéria para a tela, uma espécie de cabide da vida do poeta, sempre à espreita do sono e do sonho para deleite da sua língua. Mestre Girão, numa leitura cromática actual sugere-nos um novo fato e facto à descoberta do enigma do ser do futuro, esse tempo que nunca nos abraça e poucos podem almejar, mas também desse paraíso perdido pessoano, quinto império por resgatar.O fato em síntese está na cabeça de cada um e cada um talha-o a sua medida de seu corpo e sua alma e veste-o ou despe-o consoante o cerimonial quotidiano ou celeste. Fernando Pessoa talhou-o plural e Mestre Girão deixou as linhas por cozer e a prova para o olhar de cada um de forma a que cada um sinta o fato que melhor lhe assenta.Prof. Manuel Tavares de Pinho